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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bastidores do apto 6005

Bastidores do apto 6005

Andando pelo corredor, bebendo água e admirando a Av. Aguanambi vazia do 6º andar de um hospital...a madrugada para mim é mesmo sempre inspiradora.

Com a certeza de que passei no exame de coração - mais especificamente, de epilepsia - é que contarei a loucura que foi o dia de hoje - um dos dias mais complicados e difíceis da minha vida. Mas também um dos dias mais felizes e gratificantes para meu crescimento como ser humano.

Enfim saberia o dia que entraria na faca - não aguento mais esperar! E também acompanharia o procedimento cirúrgico da minha mãe. O dia já se inicia muito bem, obrigada - depois de recebida a minha guia de internação, quando fui autorizar o exame (burocracia²), descubro que agora teria que ir ao outro posto do meu digníssimo plano de saúde para fazer isto (burocracia³), para daí voltar para este lugar que cá ainda estou para reservar o tão esperado dia da alegria (burocracia³³³³³). FODA-SE! Tinha que cuidar da minha mãe. Sei que também é considerado meio que uma banalidade, que eles não tem obrigação de oferecer isso, e blá blá blá, mas...PORRA, aqui também não tem acesso a internet wireless? "Caralho... que plano de saúde de MERDA!", não pensei, indaguei mesmo. Ganhei um "sua destrambelhada" do meu pai.

Crítica nº 50: pedem para a gente chegar não sei quantas horas antes da prevista para a internação. Aí ficamos jogados, aos porcos na recepção. Como não adquiri meu sangue quente de chocadeira, eis que minha mãe, inconformada com nossa situação e com a de outros pacientes, resolve dar sua contribuição aos barracos de hoje. E digo mais! Se não fosse sua opinião ali, desesperada, acho que ainda estaríamos esperando até agora - são exatamente, 1:30 da manhã do dia 27 de maio de 2010.

Durante nossa longa espera, ouvimos casos surreais comparados com o nosso, com o que a gente é acostumado a lidar no nosso dia-a-dia. Ao mesmo tempo que me sentia tão distante daquela realidade, tava ali, tão perto daquelas pessoas. Contarei dois.

O primeiro era de uma pobre mãe que vinha frequentemente de Russas para Fortaleza fazer uma série de tratamentos no seu filho. Depois de ter 7 abortos espontâneos (!), ela conseguiu "segurar" aquele frágil menininho que ainda nasceu com problemas. Tinha um tumor no cérebro, e não poderia em hipótese alguma operá-lo para retirar. Ainda com sintomas anestésicos, ele pedia o relógio para a mãe, que tentava trazê-lo novamente para a realidade com uma bala Pipper.

O outro caso eu morri de rir. Uma senhora com uma bebezinha linda, de 1 aninho. Estavam ali porque a criança tinha tomado a vacina horrorosa da H1N1 e sofreu grandes efeitos colaterais: simplesmente não estava conseguindo mais andar, acreditam? Chocada. Mas a parte engraçada fica por conta de como esta mulher concebeu a menininha. Tinha 3 meses de gravidez e não sabia, "tomando remédio e usando camisinha, não era possível!", dizia. Fiquei tão impressionada com a fertilidade desta mulher que ela já tinha históricos de gravidezes assim, "suuuper prevenidas", de gêmeos, trigêmeos...a da Ana Carolina era de gêmeos, mas ao sofrer um aborto espontâneo, o menino não quis vir ao mundo. E a Carolzinha...ah, Carolzinha danada! A mãe contando que a menina com 8 meses "deu um mortal" e caiu do berço, saiu rolando pelas escadas e quebrou o nariz - "ou eu deixava ela quebrar o nariz ou eu não terminaria de lavar os pratos!", e Carolzinha tava lá, alegre, sorridente, e morrendo de fome, querendo comer um pedaço da mesa da recepção.

Agora vem o motivo do título: ficamos no sexto andar, apto 6005. A espera é tão fatídica e nervosa, impressionante. Eu e minha mãe, com os nervos já saindo do corpo. Ah, vai, vou cochilar um pouco - havia dormido apenas 2 horas de anteontem para ontem. Quando de repente, o maqueiro! Parecendo apresentador de programa. "BOA TARDE!!! Vamos lá?" Vamos, né. Tinha outro jeito?

As horas que viriam a seguir seriam terrívelmente nervosas. Não sei sinceramente o que é o pior: você estar ali, sendo operada, ou estar lá fora, aguardando notícias. Como eu já havia passado pela mesma cirurgia há 4 anos atrás, sabia que em uma hora e meia pelo menos, minha mãe estaria na sala de recuperação. Eram 2 da tarde quando ela entrou na sala. "Deus te abençoe, minha filha". E Deus fique com você, mamãe.

Enquanto aguardava, sem querer fiquei servindo de colo para uns - e querendo me aproveitar do colo de outros. Ouvi algumas histórias, contei as minhas. Conheci uma moça cuja mãe estava na UTI há 2 semanas, com problemas no coração. Tal moça há um tempo atrás havia sido diagnosticada com CA, na tireóide. Fez quimioterapia, perdeu os cabelos. E hoje estava ali, feliz da vida, falante e super cabeluda. Concluí que Deus realmente ajuda o ser humano nos momentos de dor, pois ali era um exemplo de força e superação. Força esta que ainda era dada para suportar estar ali, aguardando pela saúde da mãe.

Outra coisa também super importante que percebi é que ali estávamos em um profundo trabalho de troca, e essa gentileza, ao mesmo tempo que tava naquele nervoso, me causava uma profunda sensação de esperança e otimismo em relação às nossas vidas. Fiquei com uma felicidade inexplicável ao ouvir um "Obrigada" de uma paciente de cadeira de rodas, ao ajudá-la a chamar o elevador.

No ambiente em que estava, constituia-se basicamente de três cenários: a janelinha do centro cirúrgico, onde vez por outra vinha alguém gritando feito "Pamonha, pamonha!", e perguntava pelo "Acompanhante do paciente Fulano! Ele já está na recuperação!"; a própria sala de recuperação, na qual nosso acesso restringia-se por um interfone - que a cada 15 minutos eu apertava, incessantemente. Porra, cadê minha mãe? - e as longas salas de espera, nas quais eu sentava, transitava, assistia TV, chorava, falava ao celular...tenso.

Deus e o mundo me ligava para saber como estávamos; claro que meu pai, a cada 5 minutos. Eu até tentava equilibrar minha emoção, só que, como estão lendo, muitos fatores não contribuiam para isto; meu pai também não foi exceção. Eu parecia que estava numa competição: ia até a janelinha, batia mãozinhas com os enfermeiros e partia correndo para o interfone, onde terminava o circuito com os outros. Muitas informações desencontradas, e já fazia 3 horas que minha mãe tava lá dentro. Ai, meu Deus! "Paaai, chega looogo!"

O pior de tudo foi quando depois de meia hora que a enfermeira da janelinha disse que minha mãe já estava na sala de recuperação, fui nesta última para saber se ela já tinha acordado. "Não, aqui não tem nenhuma paciente com este nome!" O quêêêê? Eu fiquei a mais louca desse planeta. Meu Deus, já era de noite e cadê minha mãe no fim das contas? Foi quando a mesma voltou rapidamente, dizendo que ela estava lá, "era porque tava no último leito, e não a vi, desculpa!". Minha vontade de matá-la só passou mesmo depois que falei com o próprio médico cirurgião na janelinha. Falei que, se eles tivessem feito um complô para me matar ali, que tivessem me avisado antes. Não sei brincar disso!

Ah, depois foi só alegria. Meu pai, tia e mais visitas já nos aguardavam no 6005. Tô aqui passando a noite em claro cuidando dela. Tá aqui puta de raiva porque não pode se mexer, hauhauahua. E, na verdade, correu tudo na mais absoluta normalidade. Eu passando pelos corredores, o povo tudo falando comigo. Fiquei conhecida no hospital inteiro. Por que será mesmo, hein?

6 comentários:

Unknown disse...

Afinal, são as experiências que te fazem mais fortes, concorda?

Experiências pessoais, amorosas, profissionais, etc.

Devemos dar valor ao que é pequeno, ao gesto, a palavra. "A vida é feita de pequenos, nadas."

As tuas dúvidas sobre certas coisas me fascinam... E quando entendes, me confortam.

Fase 1, completada. Falta pouco pra nova fase de 2010 começar.

Adriano Mariano disse...

humm... que agradável encontro!
Adorei o blog, me fez mudar de opinião sobre vc, pra melhor ainda, claro. :p

té mais

O Diabo Do Delivery disse...

Que situação complicada mas como sempre tu tira tudo de letra!!!

Helosa Araújo disse...

Iiiiiiiiiiiih, minha amiga é super hiper desenrolada em qualquer situação, traumática, ou não, ela sempre encontra aquele "se livrex" que fundiooooona.... queria ser assim... desde o começo, com a "burocracia 2" eu estaria chorando, e querendo desistir de tudo, pode ter certeza... ;)

Dayse Oliveira disse...

#VouConfessarQ chorei um bocadinho lendo o seu post! *-*
É, minha amiga! O que não mata, fortalece! Vc está aqui, agora, nesse instante e sã para nos relatar o ocorrido! Graças a Deus! E como disse o @dherminio: "A vida é feita de pequenos, nadas."
Que venham mais "nadas" para nós!

.Nágila. disse...

quantas coisas a vida nos ensina eim?
mas sempre dá td muito certo.


seguindo claro, e voltando sempre ;)
adoro seus textos, uma ótima publicitária vc é!

quando puder dá uma passadinha lá no senzalademadame.blogspot.com ^^

saudades;**

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